O livro de poemas “Azules” de Cristiane Grando fez parte da inauguração da Editora Benfazeja, de São Paulo, criada por Wellington Souza. A primeira edição da obra foi lançada no SESC Foz do Iguaçu, em 2015, na tradicional Semana Literária. Agora, “Azules” ganha 2ª edição, que será lançada na Livraria Patuscada, em São Paulo, no dia 9 de fevereiro de 2018. A 2ª edição de “Azules”, bilíngue (português e espanhol), com tradução de Espérance Aniesa e Cristiane Grando, contando com nova capa, textos de Ligia Andrade (docente na UNILA) e Geruza Zelnys (doutorado na USP), além da revisão dos poemas pela autora, propõe pequenas modificações em alguns versos. Mais dados sobre o evento pode ser visto no Facebook: <https://www.facebook.com/ events/1594185660673639/>
A parceria entre Grando e Souza iniciou-se muito antes, através de colaborações para a Revista Benfazeja, desde 2010, quando escritores brasileiros e portugueses se uniram em uma mesma causa: difundir e pensar a literatura. A proposta da revista é definida por Wellington: “manter publicações diárias de contos, crônicas, poemas, entrevistas e artigos produzidos por acadêmicos e pesquisadores”, postados gratuitamente em português e espanhol. Desde 2011, Benfazeja mantém o site Concursos Literários. Wellington explica: “selecionamos e divulgamos as novidades sobre os principais prêmios para escritores em língua portuguesa e espanhola. Pensando na fácil navegação, classificados os concursos de acordo com o país, idioma, diferentes gêneros, formas de envio e premiações.”
Ultrapassando fronteiras em torno do que mais amamos – livros e literatura – Benfazeja se inspira nas definições de Antônio Houaiss: “benfazejo” - “que pratica ou proporciona o bem”, “que é afetuoso; amigo, generoso”, “que tem ação favorável, benéfica ou útil; cuja influência é boa”. Segundo Souza, escolheu o nome Benfazeja influenciado pela obra de Guimarães Rosa: “E as coisas vinham docemente de repente, seguindo harmonia prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as satisfações antes da consciência das neces sidades.”
impossível não ver o bando de pássaros
voando todos na mesma direção
os pássaros
organizam-se para que todos possam ver o que vem pela frente
e nós nem sabemos
o que nos espera
el último poema
imposible no ver la bandada de pájaros
volando todos en la misma dirección
los pájaros
se organizan para que todos puedan ver lo que viene enfrente
y nosotros ni sabemos
lo que nos espera
Os poemas acima, na voz da escritora, com edição de Cristhian Rolón:
a horta
na horta e pomar de Zébio:
batatas, ervilha, tomate, abobrinha
cenoura, aspargos, alcachofra - alho e cebola
quadrados de um verde que balanceia
lavanda, maçã, cereja - framboesa e ameixeira
antigamente Dedê plantava batatas
cada quadrado tinha
o nome de um filho:
Ângelo, Luciano, Sônia, Esperança
quando eu era criança
minha mãe preparava
linhas na terra
para que eu colocasse as sementes
e na colheita
beterrabas e cenouras
brilhavam na ponta dos dedos
porque eu conhecia a luz da vida
cor de vinho e laranja
como o céu no fim da tarde
la huerta
en el huerto y vergel de Zebio
papas, guisantes, tomate, calabacín
zanahoria, espárragos, alcachofa - ajo y cebolla
cuadrados de un verde que balancea
manzana, cereza, frambuesa - ciruelos y lavanda
antiguamente Dedé plantaba patatas
cada cuadrado tenía
el nombre de un hijo:
Ángel, Lucian, Sonia, Esperanza
cuando yo era niña
mi madre preparaba
surcos en la tierra
para que yo pusiera semillas
y cuando la cosecha
remolachas y zanahorias
brillaban en la punta de mis dedos
porque yo conocía la luz de la vida
color vino y naranja
como el cielo al final de la tarde
Cristiane Grando
Traducción: Espérance Aniesa y Cristiane Grando